A digitalização das informações e dos bens simbólicos está gerando grandes impactos em nossa sociedade. Ela permite libertar os conteúdos dos seus suportes. Assim, o texto não está mais preso ao papel, o filme também está livre da fita ou do CD, o som pode ser colocado em um pen drive ou em um servidor de músicas para a web. Enfim, a digitalização permite integrar toda a produção simbólica da humanidade em uma rede aberta. Pierre Lévy chegou a dizer que estamos construindo um único hipertexto que representaria a inteligência coletiva da humanidade. A linguagem digital é a base para tudo poder se integrar com tudo, ou seja, para uma grande comunicabilidade. Até mesmo a mídia tradicional, o rádio e a TV, que já digitalizam os seus conteúdos, agora estão digitalizando as suas transmissões.
O avanço da digitalização atingiu uma fase que tem sido chamada de convergência digital. O que é isto? Mais do que a possibilidade dos conteúdos serem acessados por diversos tipos de aparelhos, a convergência digital permite que os grupos sociais que apostam na interatividade possam avançar suas práticas e ampliar os espaços para as suas idéias. Um destes grupos lançou o projeto MIRO. É mais uma articulação de pessoas que defendem o livre compartilhamento do conhecimento e da cultura. Entre os criadores do Miro temos Cory Doctorow, blogueiro, jornalista e escritor de ficção científica, co-editor do blog Boing Boing, e, um dos principais defensores do creative commons e da economia da pós-escassez.
Mas o que é o projeto MIRO? É uma plataforma em software livre para assitir e programar uma grade de vídeos no computador. Miro é a TV digital Open Source (de código aberto). Criada pela Participatory Culture Foundation (algo como a Fundação da Cultura Participativa), Miro trabalha com a idéia de usar o RSS (Web syndication ou agregador e distribuidor de conteúdos digitais) e o suporte BitTorrent para buscar vídeos de alta definição que não podem ser vistos simplesmente pelo stream. A tecnologia RSS, escrita em XML, é muito usada em sites de notícias e blogs que são constantemente atualizados. Ela permite que os internautas cadastrem-se nos sites que possuem 'feeds'(fontes ou suprimento de) RSS. Assim, toda vez que uma mudança ocorrer no site ou uma nova matéria entrar na página, o internauta receberá o novo conteúdo. Isto permite que sem ter que visitar dezenas de jornais, o internauta possa receber as novas matérias publicadas em todos eles, isto de modo automático.
Partindo dessa idéia, MIRO permite que você assine os feeds RSS de diversas webTVs e canais de vídeos que existem na Internet. Assim, as pessoas poderão montar sua própria programação de TV na web, eliminando intermediários e controladores de grade. Além disso, MIRO permite as pessoas assistirem seus vídeos preferidos independente do formato do vídeo, Qicktime, WMV, MPEG, AVI, XVID, entre outros. MIRO teve mais de 1 milhões de downloads, em 2006, e tudo indica que terá mais de 3 milhões este ano. Os produtores de vídeo que querem ser conhecidos, que buscam mostrar seus trabalhos o mais amplamente possível precisam dispor um feed RSS de vídeo em seus site. Assim, os milhões de internautas que já estão usando a plataforma MIRO poderão acessar rapidamente estes vídeos.
Se prevalecer os sistemas fechados de distribuição de conteúdo audio-visual, como o da gigante Comcast ou Joost, os criadores e produtores ficarão reféns dos seus esquemas de controle. Assim os milhares de produtores independentes de vídeos, filmes e animações, estariam submetidos ao bloqueio de um ou dois grupos econômicos que possuem um modelo de negócio único. Em contraposição a isto, o vídeo RSS assegura aos criadores do audio-visual um caminho aberto para a distribuição de vídeos de alta definição. Independente do conteúdo, a Participatory Culture Foundation considera absolutamente fundamental que a produção de filmes, programas, documentários não acabe controlada pelos sistemas de distribuição proprietária dos oligopólios do entretenimento.
No site do MIRO está escrito "Não deixe que a microsoft ou a Comcast decidam quais videos você opode assistir". A comunidade que desenvolve o MIRO precisa de apoio. Eles dizem: "Miro é parte de uma luta para manter aberto o espaço para o vídeo online". Que luta é esta? Dezenas de grandes corporações estão tentando aprisionar os criadores de vídeo e seus leitores em sistemas proprietários de distribuição. Para eles, tal modelo é uma forma inteligente de fazer dinheiro, uma vez que força os espetadores e criadores a utilizarem exclusivamente suas ferramentas. Mas esses sistemas também são uma ameaça direta à liberdade na Internet. Para os criadores da MIRO, se estas empresas, atuando como gatekeepers (porteiros digitais), passam a decidir o que as pessoas podem ou não podem ver, é a liberdade de expressão no ciberespaço que está ameaçada.
É possível baixar MIRO do site
Acesse MIRO
5 comments:
Oi Sérgio
Uma vez encontrei com você no aeroporto do Rio de Janeiro e comentei do Democracy TV (DTV), que na época tinha me chamado muito a atenção e que talvez fosse tema da minha pesquisa na pós.
O Miro é a Democracy TV, que mudou de nome (infelizmente, já que o antigo mostrava muito mais a que veio) e que agora parece que finalmente está se popularizando.
Fora questões de processamento, que acabam pesando bastante pra máquinas comuns, não vejo problemas no Miro. Pelo contrário. Só vejo potencialidas. Pelo fato de ser aberto e sem limite de tamanho dos vídeos, já muda essencialmente a perspectiva de fruição do material que você encontra lá. Legal pra cacete você divulgar ele por aqui.
Abração.
No Miro tem umas 2 linhas de código que eu escrevi quando ele ainda se chamava Democracy Player. :-D
Interessante o MIRO, ainda não tinha ouvido falar dele...
Vou procurar conhecê-lo, parabéns pelo texto :)
Pow... A idéia é fantástica (além de ser escrito em Python :oP)... Muito legal você abordar isto no seu blog. Vou procurar conhecer um pouco mais! Parabéns!
muito legal mesmo, ele vai ler o rss de multimidia "podcast", parece ser uma aplicação para web e não para TV digital
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