Sunday, February 24, 2008

CELULAR P2P PODE ACELERAR A INCLUSÃO DIGITAL


Imagine se as pessoas pudessem se comunicar usando celulares sem pagar um centavo para ninguém. Na verdade podem. Todos já devem ter visto duas pessoas com walkie-talkies, ou seja, com aqueles rádios de comunicação, hoje, muito utilizados por seguranças e manobristas de estacionamentos. Para utilizar walkie-talkies não pagamos nada, somente os aparelhos. O problema é que estes rádios não têm um grande alcance, além da maioria não ser digital. Mas a possibilidade de comunicar com aparelhos celulares sem pagar nada para qualquer intermediário existe e já está sendo testada.

Uma empresa sueca, fundada em 2004, chamada TerraNet, já está testando os celulares P2P (peer-to-peer). As vantagens das tecnologias descentralizadas e abertas são espetaculares. Todo telefone celular passaria ser um aparelho que além de transmitir e receber chamadas também poderia retransmitir o sinal de outros aparelhos. Cada celular serviria como uma estação de retransmissão, assim não precisaríamos mais das antenas das operadoras.

As consequências positivas da tecnologia P2P nos celulares são gigantescas. As pessoas com renda muito baixa poderiam usar gratuitamente a comunicação digital para melhorar suas condições de vida, lazer e trabalho. Elas terão efetivamente garantido o seu direito à comunicação. Além disso, com a integração dos celulares à Internet é possível aumentar o acesso à rede e aos portais disponíveis para aparelhos móveis. Outro ponto importante: um celular P2P pode se conectar com um roteador Wi-Fi e enviar e receber seu sinal através do protocolo de Voz sobre IP, ou seja, pode utilizar o Skype, por exemplo.

O aparelho celular P2P pode ser híbrido. Nas áreas com muitos celulares P2P, os inúmeros aparelhos evitam áreas vazias em que o sinal não tenha força suficiente para se propagar. Cada aparelho retransmite o sinal do outro até encontrar o destino dos pacotes de voz ou de texto. No caso de áreas com poucos celulares P2P, o aparelho poderá usar uma rede WiMax ou ainda realizar ligações normais para as Operadoras. A empresa TerraNet está testando pelo menos três sistemas completares ao P2P. O hardware do celular da TerraNet poderá funcionar com as tecnologias WiMax, HSDPA, UTMS, GSM, GPRS, mas a empresa acredita que poderá utilizar qualquer outra. Enfim a TerraNet quer utilizar o GSM Mobile WiMax como complementar a tecnologia 3G.

Uma das grandes questões sobre as possibilidades do celular P2P está nos possíveis riscos de congestionamento. Segundo técnicos da TerraNet, os congestionamento ou sobrecarga de tráfego podem acontecer em qualquer rede celular onde o uso da rede é excessivo ou quando a rede não é redimensionado para se ajustar a quantidade de usuários. Mas a superação deste problema está na inteligência dos algoritmos de roteamento que serão embarcados nos aparelhos celulares. O aperfeiçoamento deste algoritmos permitirão distribuir da melhor forma possível os fluxos de dados e as sua rotas pela rede. O roteamento inteligente é o que permite o sucesso dos celulares P2P.

Segundo, o estudo MOBILITY IN P2P IN CELLULAR NETWORKING, do pesquisador finlandês Yrjö Raivio, da Universidade de Helsinki, a maioria dos serviços ainda estão sendo executados em cima da tradicional arquitetura cliente-servidor, mas os celulares P2P poderiam facilmente melhorar a experiência do usuário final. O uso de coordenadas de geo-referenciamento podem melhorar o endereçamento dos pacotes de som, texto ou imagem.

Telemóveis ou celulares são excelentes ferramentas para compartilhar conteúdo. Já existem inúmeras comunidades que compartilham imagens feitas pelos celulares. Os celulares P2P , por utilizarem principalmente os protocolos da Internet podem integrarem-se muito bem a web. A grande dificuldade do modelo está no tempo de duração da bateria, uma vez que ela será usada não só para transmitir e receber mensagens do seu próprio aparelho, mas também para retransmitir o sinal dos demais aparelhos. Uma boa imagem para entender a rede P2P é a dos atletas corredores que passam o bastão para um outro depois de percorrer uma certa distância. O sinal no mundo P2P é como o bastão do atleta que iria saltando de aparelho em aparelho até encontrar seu destino.

Yrjö Raivio, lembra-nos que “antes que seja uma realidade, redes celulares e dispositivos devem dar gigantescos passos tecnológicos à frente, mas o principal obstáculo é, evidentemente, a nossa maneira de pensar”. O P2P tem demonstrado sua força e sua superioridade tecnológica diante do tradicional modelo cliente-servidor. Nas redes fixas já responde por mais de 60 por cento do tráfego de pacotes. É claro que a quantidade de dados irá explodir no futuro próximo devido à crescente popularidade das aplicações de vídeo. O avanço da chamada convergência digital, bem como, o aumento do uso dos celulares e aparelhos móveis para acessar a web contrubuirão para ampliar o uso do P2P em redes lógicas. Mas, o modelo P2P pode ser um grande aliado da inclusão digital por reduzir dramaticamente os custos de conexão.

Com celulares que usam Voz sobre IP já teremos uma grande redução dos custos, mas com aparelhos celulares que usam o modelo P2P poderemos realizar ligações no plano local sem pagar nada. Com prefeituras que abrem o sinal Wi-Fi em seus municípios, estes celulares P2P poderão conectar-se a Internet e garantir uma inclusão massiva da população na sociedade da informação. O que impede isto de ocorrer são razões ideológicas, culturais e econômicas, ou melhor, de manutenção dos planos de negócios das empresas de Telecom. Razões técnicas não são mais impedimentos.

(Este texto foi publicado na Revista A Rede de fevereiro de 2008)

1 comment:

felipefonseca said...

fala, serginho

tem um pessoal na frança propondo voz sobre dispositivos usando redes abertas e p2p também, e totalmente baseado em software livre, o projeto bricophone.

http://www.craslab.org/bricophone/

eles há pouco receberam apoio da nlnet, uma fundação holandesa:

http://www.nlnet.nl/project/bricophone/

eu faço parte da rede onde algumas das conversas que geraram o projeto aconteceram, a bricolabs. vamo tentar replicar a idéia no Brasil?