Monday, September 01, 2008

INTERNET, CONECTIVIDADE, ELEIÇÕES E CIDADANIA...


No mês de julho, Danielle fez esta entrevista comigo para um jornal sindical. Talvez seja útil para o debate da relação comunicação digital-cidadania. Veja:

1. Apesar dos graves problemas de inclusão digital existentes no Brasil, a internet pode ser considerada como o meio de comunicação mais democrático da atualidade?

SA: A penetração da Internet já supera a tiragem dos jornais diários no Brasil. Os telecentros, as lan-houses e os programas de financiamento de computadores aliados a políticas municipais de abertura de sinais wireless gratuitos certamente estão permitindo que a Internete avance em direção a maioria da população excluída. Do ponto de vista democrático, a Internet reduziu os custos de se tornar um falante no espaço público. Além disso, a possibilidade de criar sites, blogs e comunidades de interesse garantem uma maior diversidade de opiniões inexistente no mundo dominado pelos mass media.

2. Qual a verdadeira penetração dos veículos de comunicação digitais alternativos" na formação da opinião pública? Isso tende a aumentar?
SA: No ciberespaço, expressão "veículo alternativo" tem menos sentido que no mundo analógico. Se você observar a soma da audiência de alguns blogs individuais, verá que ela já ultrapassa a visita em sites de grandes jornais tradicionais. Por isso, os grandes portais agragam os blogs ao lado de veículos tradicionais. O que está acontecendo é a mutação do conceito de notícia. Atualmente, a produção da notícia foi democratizada. Eu me informo sobre a campanha do barack Obama diretamente no twitter dele. Se quero acompanhar o que esta acontecendo no mundo da tecnologia da informação tenho que assinar um RSS no slashdot. Quem é alternativo em cobertura da chamada TI, o slashdot ou a CNN? Os intermediários estão perdendo espaço no mundo das redes.

3. Representantes dos movimentos sociais e sindicais acusam a grande imprensa de tentar criminalizar suas ações políticas. Vc concorda com isso? A falta de consciência sobre a importância de uma boa estratégia de comunicação pode contribuir com isso?

SA: A criminalização da questão social é antiga no Brasil. Nos princípios do século XX, o então Presidente Washington Luis já dizia "questão social é caso de Polícia". Revistas como a Veja são boletins de agremiações com interesses materiais concretos. Agem violentamente contra tudo que pode atrapalhar a reprodução do capital de seus arranjos econômicos, principalmente contra os movimentos sociais. Eu nunca vi a Veja atacar a Operadora de Telefonia no Brasil e o modelo de privatização do PSDB, em que o consumidor de banda larga paga por 1 Mega de conexão e só recebe 10% do contratado. Isso não é crime. Acredito que a estratégia seja usar claramente os espaços democráticos do ciberespaço e organizar clusters, conjuntos, de blogs e redes de informação que perpasse também pelas redes sociais. Não acredito em convencer o editor da Veja. Ele não pode ser convencido ele é a voz dos grupos que a revista defende.

4. A internet tornou-se o principal instrumento de exercício do contraditório?

SA: Não tenho a menor dúvida. O que a imprensa tradicional tenta esconder a rede permite disseminar. A credibilidade da rede vem da reputação dos sites e blogs e pessoas. A economia das reputações na rede é muito mais eficiente e severa do que na esfera pública dominada pelo broadcasting.

5. Você considera importante um entidade sindical (ou social) ter um site/portal? Por quê?

SA: Uma entidade que não busca se conectar no ciberespaço com seus associados está completamente fora de sintonia com o cenário comunicacional que vivemos. Recentemente, a alta corte do Reino Unido, a Câmara dos Lordes, abriu um canal de TV permanente no Youtube (www.youtube.com/ukparliament). Imagine que ainda tem dirigente sindical com medo de abrir um blog e ter que responder as críticas da base. Pode esquecer, a comunicação caminha para uma fase participativa. É óbvio que a participação será assimétrica, que uns participam mais do que outros, mas todos caminham para superar a passividade comunicativa. A rede viabiliza isto.

6. Especialmente em função das eleições deste ano temos acompanhado diversas tentativas de "censura" ou "regulamentação" (dependendo do interlocutor) em relação ao conteúdo publicado na internet. Isto é necessário? Quais os riscos e consequências destas intervenções? De quem deve ser o papel de supervisionar abusos e ilegalidades na rede?

SA: Os abusos na rede são repelidos pela própria rede. Precisamos construir uma cidadania no cenário digital e ela pode requerer uma série de regulamentos que se tornem leis nacionais. Mas, a rede é transnacional e descentralizada. Ela requer mais governança que governo, mais participação da sociedade civil do ação burocrática. No caso das eleições, o TSE errou ao querer impedir o uso das redes sociais, do orkut, do youtube, twitter, facebook, listas de discussão, etc, na campanha eleitoral. Tal proibição beneficia o poder econômico, pois retira todas as vantagens equalizadoras da rede. Além de ser de dificil aplicação, serve portanto aos usos arbitrários, e, acaba protegendo os candidatos que temem a interatividade mais do que tudo. As redes digitais exigem interação, elas têm horror ao palanque e a proteção do demagogo.

6 comments:

Anonymous said...

Sergio desculpe te escrever por aqui mas não achei teu e-mail, a Brasil Telecom simplemente cancelou 100 mil de seus usuários pois eles utilizavam os serviço de autenticação da Zip Line www.adslresidencial.com.br que claro cobrava mais barato 1,50 quando os outros provedores cobram 20 reais. Mas a internet é sensasional agora os ex susuários estão se organizando em uma comunidade do orkut e indo em busca de seus direitos dá uma conferida e se tiver algum usuários na adslr aqui o convite está feito. http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=65344793

Francisco Castro said...

Olá, gostei muito do seu blog e de sua abordagem.

Parabéns!

Um abraço

Anonymous said...

eu sempre digo que o melhor e mais eficiente modo de agir contra essas assossiações "indestrutiveis" de burguesia e governo é o Boicote. então se eles tentarem se engraçar pra cima da liberdade e anonimato da internet, isso afetará uma boa parte do Brasil que com certeza não vai "engolir" isso quieto... por isso eu me vejo despreocupado com a possibilidade de uma lei que derrube esses dois pilares essenciais para a internet como conhecemos...

Anonymous said...

Concordo muito com o boicote, pois esta é uma forma muito interessante de imposição da sociedade civil, que sofre tanto com o governo e com os aparelhos do capital. Achei a entrevista muito legal mesmo! Viva a rede! Viva a verdadeira democratização!

crica said...

Sobre jornais e internet.

Sou professora do ensino fundamental de uma escola municipal na periferia da zona norte de São Paulo. Estamos por lá desenvolvendo um projeto de jornal mural com as crianças.
Dia desses pedi para que os alunos trouxessem jornais para a sala de aula. O resultado foi revelador. Uma meia dúzia de 150 alunos trouxe, a maioria jornais da igreja Universal. Fiquei brava e estava orientando um grupo para que tentassem as publicações gratuitas de fim de semana- como tem no meu bairro. A menina me respondeu: "Professora, lá no bairro não tem banca de jornal." e antes de que eu dissesse mais alguma coisa ela emendou, "Mas tem lan house, tem um monte de lan house, não é mesmo?" As outras meninas confirmaram e eu fiquei com aquela cara de quem acabou de descobrir o óbvio.
É isso!
Crica

crica said...

quintaldacrica.blogspot.com