Sergio Amadeu da Silveira
(Matéria publicada na Revista A Rede
Blogs são uma realidade na internet. Surgiram como diários íntimos, textos considerados sem grandes compromissos, mas, atualmente, já ocupam grande importância até para o jornalismo tradicional. Apesar de ser um fenômeno recente, está repleto de histórias heróicas envolvendo blogueiros e seus blogs. Bill Clinton quase perdeu o mandato, quando um blog denunciou seu caso com uma estagiária. Certos da impunidade, soldados norte-americanos publicaram em seus blogs as fotos das humilhações que impunham aos presos iraquianos. Mas cidadãos indignados, navegando nesses blogs, fizeram daqueles relatos provas, verdadeiras confissões das atrocidades de uma guerra. Durante o 11 de setembro, enquanto Nova York vivia o pânico, os blogs trouxeram informações para o mundo carente de notícias.
Denise Schittine, no seu livro “Blog: Comunicação e Escrita Íntima na Internet”, sugere que “os diaristas virtuais, donos de suas páginas pessoais, tinham, pela primeira vez, a oportunidade de veicular uma notícia antes mesmo que os meios de comunicação tradicionais conseguissem fazê-lo. Mas transmitiriam essa notícia de uma forma diferente, impregnada de impressões, seus medos e seus comentários sobre o acontecimento (11 de setembro).” (...) “Embora já existissem no universo dos blogs, esses ‘editores autônomos’ conseguiram dar aos seus diários íntimos uma enorme relevância jornalística nessa situação.”
Blog vem da contração do termo “web”, página na internet, com “log”, diário de bordo. Um blog ou weblog nasceu como um site pessoal, atualizado diariamente (ou quase), no final dos anos 90. Nos blogs, as pessoas podem comentar os textos e interagir com os autores. O fenômeno de escrever blogs se alastrou de tal forma, que gerou inúmeros portais gratuitos para hospedá-los. Somente o Blig, blog do provedor iG, registrou, em março de 2004, 270 mil blogs. Estima-se que já temos mais de 10 milhões de blogs ativos na internet. Empresas, profissionais liberais, professores, entre tantos outros, passaram a utilizar o blog para comunicar idéias, interesses, propostas ou, simplesmente, para divulgar sua existência.
O crescimento da blogsphere é tão intenso, que o Google acaba de lançar um serviço de busca especial para encontrar blogs e textos em blogs (www.google.com/blogsearch), que possui bots (rôbos de busca) mais rápidos do que aqueles que fazem a pesquisa na web. Entre as causas do sucesso, podemos ver aquela apontada pelo portal Blogger (www.blogger.com). Na sua home, podemos ler: “um blog é um site de fácil utilização, onde você pode postar rapidamente o que pensa, interagir com as pessoas e muito mais. E tudo isso é Grátis.” Exatamente isso. Enquanto fazer uma página pessoal exigia inúmeros passos, subir um blog é extremamente fácil, e não requer conhecimentos de html ou de qualquer outra linguagem. Além disso, a hospedagem é gratuita. E, depois dos blogs, vieram os fotologs – em vez de textos, as pessoas publicam suas fotos ou comentam as imagens e fotos dos outros.
VOCÊ NO TUBO
A explosão dos blogs parece que será menor do que a que está por vir: a dos vídeos. Imagine a quantidade de celulares com câmaras de vídeo, de máquinas digitais, webcams, palmtops e filmadoras semiprofissionais espalhadas pelo mundo. Pense agora no que as pessoas poderão fazer, se tiverem a oportunidade de publicar seus vídeos, da mesma forma que, hoje, podem publicar textos em seus blogs.
Assim como ocorreu com os blogs, os vídeos blogs ou vlogs já possuem vários portais de hospedagem gratuita. O mais famoso é o YouTube (www.youtube.com). Temos também o Videolog TV (www.videolog.com.br), o Google Vídeo (http://video.google.com) e outros. Chad Hurley e Steve Chen criaram, em fevereiro de 2005, a YouTube. Em agosto do mesmo ano, atingiram a audiência de 30 mil vídeos assistidos por dia. Atualmente, já ultrapassam a marca de 1 milhão de vídeos vistos diariamente. Isso é somente o começo.
Um evento de um telecentro, as exposições e espetáculos dos grupos culturais, o debate dos grupos de amigos, os professores e suas aulas, bailarinos, mímicos, baladas, enfim, tudo pode ser captado por uma filmadora amadora e levado para a publicação em um blog próprio ou em um local de exibição coletiva de vídeos. Genial.
Melhor ainda é se o pessoal quiser editar os vídeos, antes de subi-los para um vlog, usando o software livre chamado Cinelerra. Veja o que a turma do Estúdio Livre (www.estudiolivre.org/tiki-index.php?page=Cinelerra) escreveu: “O Cinelerra é provavelmente o melhor programa de edição de vídeos para sistemas operacionais livres. Com ele, você pode capturar, editar, usar efeitos, mexer e mixar várias trilhas de áudio e vídeo em tempo real — enfim, tudo o que se espera de um bom editor de vídeos. (...) Atualmente, o Cinelerra ‘oficial’ é desenvolvido pelo pessoal do site Heroine Warrior (http://heroinewarrior.com/cinelerra.php3), que publica as novas versões de tempos em tempos. Um projeto paralelo, com atualizações mais freqüentes e novas características (como tradução do programa para português ou correção mais rápida de erros) é mantido pelo pessoal do CVS (http://cvs.cinelerra.org/).”
Enquanto o pessoal aprende a trabalhar com ferramentas de edição, não perca tempo. Sua comunidade, seu telecentro, pode inundar a rede com inúmeros vídeos. Montando um vlog de sua comunidade, será possível fazer vídeos em uma única tomada ou com pequenos cortes e edição simples. O importante é que uma manifestação pode ser coberta e colocada na rede mundial. Imagens de violação dos direitos humanos podem ajudar a defender a cidadania, vídeos sobre corte ilegal de madeira podem ajudar a proteger a Amazônia, ou, simplesmente, a mensagem de lideranças autênticas podem mostrar o outro lado das coisas.
CONSULTE:
http://community.vlogmap.org/welcome — O mapa mundial dos vlogs, tentativa de mapeamento das comunidades de vlogueiros.
http://freevlog.org/translations/portuguese/ — Tutorial para fazer um videoblog (em português).
http://www.ourmedia.org/ — Ourmedia.org (Nossa Mídia, em português). Comunidade global e centro de aprendizado, onde é possível expor os seus trabalhos de mídia. Vídeos, blogs, fotos, filmes de estudantes — são hospedados todos os tipos de trabalhos digitais nascidos fora da grande mídia. É projeto colaborativo, open source, feito por voluntários. Mas ainda está somente em inglês.
1 comment:
Ao ouvir falar de Blogs, Videologs e Podcasts, que são blogs falados, lembro da Eletronic Frontier Foundation, que é uma entidade cuja principal missão é defender o direito de expressão no mundo digital. Os tópico abordados são, entre muitos outros, Direito dos Bloggers, Propriedade Intelectual, troca de mídias digitais na rede, e DRM.
O site é www.eff.org, em inglês.
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